O eye-tracking é uma tecnologia que rastreia e registra os movimentos oculares, permitindo compreender para onde uma pessoa está olhando, por quanto tempo e como seus olhos se movem. Ela é comumente aplicada em diversas áreas, como marketing, design, psicologia, neurociência e ergonomia, para analisar o comportamento visual dos indivíduos. No campo da arquitetura e design de interiores, o eye-tracking oferece um grande potencial ao permitir uma análise precisa de como as pessoas percebem, navegam e interagem com os espaços construídos.

Aplicações do Eye-Tracking em Arquitetura e Design de Interiores

 

  1. Análise de Percepção Espacial

O eye-tracking permite que arquitetos e designers entendam quais elementos chamam mais atenção em um ambiente. Com isso, é possível identificar:

  • Pontos focais: Descobrir quais áreas ou objetos, como uma obra de arte ou uma janela, atraem o olhar de alguém ao entrar no espaço.
  • Fluxos de atenção: Compreender como os olhos percorrem o ambiente e quais padrões visuais os ocupantes seguem.
  • Hierarquia visual: Avaliar se o design está guiando os usuários de maneira adequada pelo espaço, garantindo que os elementos importantes estejam sendo notados.

 

  1. Design de Espaços Públicos

Em locais como museus, lojas e aeroportos, o eye-tracking pode otimizar a disposição dos elementos para melhorar a navegação e o conforto visual dos usuários. Exemplos incluem:

  • Sinalização e wayfinding: Verificar se a sinalização está bem posicionada e visível para os visitantes.
  • Exibição de produtos em lojas: Descobrir quais produtos ou displays capturam mais atenção e ajustar a disposição para maximizar o impacto.
  • Experiência em museus: Avaliar como as exposições são percebidas visualmente e identificar possíveis barreiras que afetam a experiência dos visitantes.

 

  1. Avaliação de Iluminação e Cores

O eye-tracking pode medir como a iluminação e as cores influenciam a atenção e o conforto visual dos usuários. Isso inclui:

  • Iluminação natural vs. artificial: Identificar a reação dos ocupantes a diferentes fontes de luz e ajustar a iluminação para criar ambientes mais confortáveis.
  • Cores que guiam o olhar: Determinar como diferentes combinações de cores influenciam os movimentos oculares e otimizar a escolha de paletas cromáticas para criar efeitos específicos.

 

  1. Testes de Usabilidade de Espaços

O eye-tracking pode ser utilizado para testar a funcionalidade e a usabilidade de layouts antes da implementação final. Isso ajuda a verificar se:

  • O layout é intuitivo: Garantir que as pessoas consigam navegar pelo espaço de maneira eficiente e encontrar os recursos que precisam.
  • Elementos funcionais estão visíveis: Verificar se itens como interruptores e outros pontos de interação estão no campo de visão correto.
  • Ergonomia visual: Avaliar a interação dos usuários com móveis, displays e outros elementos dentro do ambiente, garantindo conforto visual adequado.

 

  1. Estudos de Neuroarquitetura e Bem-Estar

Integrado a estudos de neuroarquitetura, o eye-tracking pode analisar como diferentes estímulos visuais afetam o bem-estar dos ocupantes, como:

  • Conforto visual: Avaliar se o design de um ambiente ajuda a reduzir o estresse visual, especialmente em locais de trabalho onde o cansaço ocular é comum.
  • Resposta emocional: Medir como diferentes elementos de design visual impactam as emoções dos usuários e adaptar o ambiente para promover sensações de relaxamento ou foco.
  • Estímulos sensoriais e comportamento: Analisar como estímulos visuais influenciam a navegação e comportamento dos ocupantes, útil em projetos que visam guiar determinadas ações dos usuários.

 

  1. Personalização de Experiências de Design

O eye-tracking pode ser usado para criar experiências personalizadas em ambientes corporativos, residenciais ou de hospitalidade. Ele permite que os designers ajustem o layout e outros elementos de acordo com as preferências visuais e necessidades específicas de cada grupo de usuários.

 

  1. Testes em Realidade Virtual (VR)

Com a popularização da realidade virtual na visualização de projetos arquitetônicos, o eye-tracking pode ser usado em ambientes virtuais para testar o design antes da construção física. Isso permite avaliar como os usuários interagem visualmente com o espaço projetado, otimizando o layout e outros aspectos antes da implementação.

 

Como o Eye-Tracking Funciona

A tecnologia de eye-tracking utiliza câmeras ou sensores que capturam os movimentos oculares e fornecem dados detalhados sobre onde a atenção visual está focada. Existem dois métodos principais:

  • Eye-tracking baseado em vídeo: Câmeras infravermelhas detectam o reflexo da córnea e calculam a direção do olhar.
  • Eye-tracking eletromagnético: Sensores colocados ao redor dos olhos captam os movimentos através de campos magnéticos.

 

Os dados capturados incluem:

  • Fixações: Momentos em que os olhos estão focados em um ponto específico.
  • Sacádicas: Movimentos rápidos dos olhos entre duas fixações.
  • Pupillometria: Medição do diâmetro das pupilas, o que pode indicar respostas emocionais ou cognitivas.

 

Vantagens e Limitações

O eye-tracking oferece vantagens, como:

  • Dados precisos e objetivos: Fornece uma análise detalhada e elimina o viés subjetivo.
  • Análise em tempo real: Oferece insights instantâneos sobre o comportamento visual dos usuários.

 

Por outro lado, apresenta limitações:

  • Complexidade e custo: Equipamentos de eye-tracking podem ser caros e exigem um ambiente controlado para resultados precisos.
  • Interpretação dos dados: A análise pode ser complexa, exigindo expertise para interpretar corretamente os padrões oculares.

 

Conclusão

O uso do eye-tracking em arquitetura e design de interiores proporciona uma nova maneira de criar ambientes mais centrados no usuário. Ao coletar dados visuais precisos, arquitetos e designers podem otimizar a funcionalidade, estética e usabilidade de espaços, criando experiências visuais mais agradáveis e eficientes. A aplicação dessa tecnologia permite que os projetos sejam baseados em uma análise objetiva e científica da interação visual dos usuários com os ambientes, promovendo bem-estar e maior satisfação.

 

Referencias bibliográficas

  • DUCHOWSKI, Andrew T. Eye Tracking Methodology: Theory and Practice. 3. ed. Springer, 2017.

     

  • NIELSEN, Jakob; PERNICE, Kara. Eyetracking Web Usability. New Riders, 2010.

     

  • POOLE, Alex; BALL, Linden J. Eye tracking in human-computer interaction and usability research: Current status and future prospects. In: GHAOUI, Claude (Ed.). Encyclopedia of Human-Computer Interaction. IGI Global, 2006. p. 211-219.

     

  • HOLMQVIST, Kenneth et al. Eye Tracking: A Comprehensive Guide to Methods and Measures. Oxford University Press, 2011.

     

  • NEUROSCIENCE FOR ARCHITECTURE. Eye-Tracking and Its Role in Understanding User Experience in Built Environments. The Academy of Neuroscience for Architecture, 2022.

     

  • ROBSON, Peter; FRIEDMAN, Allison. Human perception and attention in spatial environments: The role of eye-tracking technology. Journal of Environmental Psychology, v. 56, p. 67-79, 2018.

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